Pe. Joaquín Alliende Luco
Academia Chilena de Línguas
(Missões, abril de 2009, p. 15 a 17)
www.revistamissoes.org.br
O Tríptico do Cristo da Missão, ou Capelinha Missionária, é um dos símbolos da Grande Missão Continental. Obra de Eduardo Velásquez, artista peruano, o Tríptico foi um presente do Papa Bento XVI à Conferência de Aparecida. (cf. DA, p. 284).
Bento XVI deixou aos países da América Latina e do Caribe o presente de sua presença, de sua oração, de suas palavras vivificantes e valentes. Junto a isto está o dom deste Tríptico, que representa o “Cristo do envio”. O povo crente haverá de recebê-lo não só como uma ilustração de verdades. Talvez o faça seu e o transforme, pela oração, em um ícone de sua devoção fervorosa e confiante, em uma parábola iconográfica na qual se unem o credo da fé com a pessoa do Sucessor de Pedro.
A Igreja Latino-Americana e do Caribe considera como marco inicial de sua evangelização um ícone: a figura mestiça de Maria de Guadalupe, representada no manto de São João Diego. Bento XVI retomou esta tradição e entregou aos bispos participantes do Encontro de Aparecida um Tríptico evangelizador e devocional.
Nele estão contidos a espiritualidade e o programa pastoral característicos que o lema da 5ª Conferência propõe: Discípulos-Missionários de Jesus Cristo, para que n’Ele Nossos Povos Tenham Vida – Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6). O Tríptico flui da tradição da arte cuzquenha (de Cusco, cidade peruana). Com ele se encontra, simbolicamente, em Aparecida, a cultura andina, compartilhada pelos países do Oceano Pacífico, com o mundo de língua portuguesa, das costas do Atlântico, ao qual pertence o Santuário Nacional mariano do Brasil.
O programa iconográfico abre-se interiormente em oito quadros e em outras imagens menores:
1. O motivo central é ocupado por uma representação do Cristo Ressuscitado na hora do envio missionário dos discípulos. A radiante figura de Jesus preside a totalidade do Tríptico com a auréola de uma serena vitoriosidade. Nos rostos dos enviados se manifesta a riqueza plural do Povo de Deus. Há homens e mulheres. Alguns têm pele branca. Outros rostos são de mulatos, indígenas ou de mestiços. Ao fundo se vê a cena do Calvário e dois anjos. Na legenda se reproduz a autodefinição do Messias, as palavras do envio discipular: “Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações” (Mt 28,19) e o solene encargo da Mãe do Senhor à sua Igreja.
2. À luz do milagre de Caná se assinala catequeticamente o imperativo pastoral de mobilizar o amor dos fiéis a Maria e à obediência irrestrita ao querer de Jesus: “Façam o que Ele vos disser.” A figura dos esposos destaca a grandeza do Sacramento do Matrimônio. As talhas de vinho expressam a alegria dos discípulos que, pela manifestação de glória, creram nele.
3. Vocação dos primeiros: Pedro e André, Tiago e João são chamados. As palavras de eleição de Jesus têm uma réplica humilde de Pedro, que se sente indigno para seguir a vocação de apóstolo. Desde então serão pescadores de homens. Os quatro escolhidos aceitam remar mar adentro e lançar as redes só “em teu nome”. O resultado é uma abundância milagrosa. Deixam tudo. Começam a trilha do seguimento discipular.
4. A multiplicação dos pães. O verde da erva relembra que o fato ocorreu na primavera. Cristo oferece o poder de sua misericórdia, fazendo abundante o escasso alimento inicial. Mas não é Ele quem entrega o pão à multidão: “Dai-lhes vós mesmos de comer.” Os discípulos têm o encargo de atender aos necessitados. Ressoa aqui uma urgência inadiável. É o imperativo da Igreja Latino-Americana e do Caribe de atender os pobres e esquecidos, “seja no socorro de suas necessidades mais urgentes, como também na defesa de seus direitos” (Homilia aos Bispos, 11/5).
5. Encontro com os discípulos de Emaús. Esta cena mostra como Jesus mesmo entra no dinamismo peregrinante da Igreja. Durante o caminho Ele explica as Escrituras. Na mesa, o Ressuscitado parte e partilha o pão. Iconograficamente a atenção se foca na centralidade da Palavra e da Eucaristia. O texto da legenda registra a intensidade do encontro do discípulo com seu Mestre. É um ardor contemplativo, que leva ao novo trajeto missionário para Jerusalém.
6. A vinda do Espírito Santo. É o nascimento da Igreja. Os apóstolos congregam-se em torno de Maria-Mãe. Pedro tem as chaves como símbolo de seu encargo específico no Colégio Apostólico. “Todos ficaram cheios do Espírito Santo.” Aparecem as mulheres; delas fala o livro dos Atos. Unidade na comunhão do Espírito Santo. Variedade de carismas. Só pelo vigor divino que o Paráclito lhes concede podem assumir a Missão recomendada.
7. Os discípulos de Jesus evangelizam. Ocorre agora. Os discípulos entram na vida de “nossos povos”. A evangelização dá-se no diálogo cotidiano. Os discípulos e missionários do século 21 prolongam o amor e o compromisso de São João Diego de Guadalupe, com a Bíblia na mão. No seu manto vai impresso pelo céu a imagem da Virgem Maria, discípula perfeita e sábia educadora dos eleitos por Jesus para evangelizar.
8. O Pai Eterno e o Espírito Santo. Coroa o Tríptico uma imagem do Pai de Jesus Cristo, que se mostra unido ao Espírito e ao Senhor Ressuscitado. Com este pormenor, todo o ícone ganha um marcado caráter trinitário, tal como era usual nas imagens da primeira evangelização. Indica-se, assim, qual é a fonte e o destino da história humana. Assim, o Deus Uno e Trino é proposto como a suprema realidade de amor, na qual se sustentam e inspiram todas as formas de comunhão e solidariedade que brotam do Evangelho.
9. Nos camtos superiores dos painéis laterais abertos, aparecem dois santos emblemáticos do primeiro século do Cristianismo. Um é o grande missionário vindo da Espanha, São Toríbio de Mogrovejo: o bispo místico realizou uma gigantesca obra evangelizadora a partir de sede, em Lima (Peru). A outra figura é Santa Rosa de Lima: representa a recepção do Evangelho por parte dos nativos americanos; esta leiga, nascida de uma família de origem dominicana, chegou a alto cume de intimidade esposal com Cristo e de heroica caridade para com os pobres.
10. Quando o Tríptico está fechado, aparece o escudo papal de Bento XVI e vê-se a sua dedicatória, com a exortação que assinala para o futuro: “Sejam discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que nossos povos tenham vida. Aparecida, 13 de maio de 2007.” O selo final é a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Em torno dela se congrega um cacho misturado com diversos rostos dos povos que ela protege e guia por estas latitudes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário