domingo, 31 de janeiro de 2010

Sacertote




Frei Patrício Sciadini, ocd.
A Pessoa de Jesus se coloca na nossa frente como modelo de todo o agir para qualquer um, mas especialmente para os sacerdotes.
Pensar no sacerdote é pensar em alguém frágil, pecador, carregado de muitos defeitos e limitações, e que um dia, não só por sua decisão própria de querer seguir o Cristo, mas por vontade da mesma Igreja, que discerniu a sua vocação através de vários anos de caminhada, foi "consagrado sacerdote". Quer dizer, foi chamado e considerado apto para ser no mundo uma presença viva de Jesus, um "outro Cristo", e recebeu como missão fazer de sua vida uma transparência de amor e revestir todos os seus atos de carinho, de perdão e de misericórdia em favor de todos os que necessitam de Jesus. Pela ordenação sacerdotal, tornou-se irmão universal, dedicado totalmente ao serviço do Evangelho.
O sacerdote na Igreja católica não é um ministério passageiro, que pode ser assumido por um determinado espaço de tempo e, depois, uma vez cansado de ser sacerdote, se devolve, para reassumir outra atividade, como se nada tivesse acontecido na sua vida. Nenhum padre poderá esquecer o dia em que se prostrou diante do altar e, pelo ministério episcopal, foi ordenado sacerdote, e publicamente assumiu continuar a memória de Jesus pela celebração do mistério eucarístico. A ele foi dada a mesma ordem que o Cristo deu naquela noite da Última Ceia: "Fazei isto em minha memória".
O sacerdote não se ordena a si mesmo, não chama a si mesmo, não escolhe a si mesmo, mas é chamado e escolhido. E toda escolha sobrenatural não é outra realidade senão um gesto de amor que não tem explicação humana é um ato de amor que só o Amor pode explicar: Ser sacerdote é ter a consciência de que um dia fomos chamados do meio do povo, consagrados e devolvidos ao povo, para servi-lo. Agir na pessoa de Cristo exige constante esforço de se despir de todos os pecados e limitações para que a beleza e a grandeza de Jesus possa resplandecer em toda a sua luz. Não há sacerdote que não deva ser consciente disso. Há, deve haver, em todo sacerdote, o desejo, o imperativo de ser bom, de ser santo, de evangelizar mais pela vida que pela palavra. Todo sacerdote, quando se espelha no modelo "Jesus", sente tremer a sua consciência e é tomado pelo temor santo que tomou conta dos profetas que, diante do Deus altíssimo, sentiam toda a fragilidade e toda própria pecaminosidade.
Quem és tu, sacerdote?
 Alguém que, um dia, pela graça de Deus foi chamado a seguir os passos de Jesus. Seduzido pelo serviço apostólico, profético, percebeste que o anúncio do Evangelho era o teu único desejo; que servir o povo no desinteresse e na caridade era o teu sonho; que colocar-se na escuta do grito de tantos irmãos e irmãs esmagados, sofridos pela injustiça e pelo pecado, era o teu único desejo. E por isso aceitaste com alegria ser "sacerdote", deixando atrás de ti sonhos humanos, desejos de constituir uma família, de ter ao teu lado uma mulher com quem partilhar a vida e ver, através da cooperação dela, uma descendência onde contemplar o teu rosto e tua história.
Não te apavores, se nestes últimos tempos, por todos os lados, tentam deformar, denegrir, sujar a imagem do sacerdócio. Em tempo de crise, devemos viver com maior intensidade os valores da vida sacerdotal. A consagração sacerdotal não elimina a sedução do pecado nem vacina contra as tentações que experimentamos no dia-a-dia.
Quem és tu, sacerdote?
Alguém que foi ungido e foi chamado a ser Cristo vivo no mundo em que vive. Consciente de nossa fragilidade, devemos pedir a graça da fidelidade, caminhar de cabeça erguida e nunca nos sentir envergonhados por ser de Jesus Cristo. Cheios de uma grande alegria por ser sacerdote, anunciemos oportuna e inoportunamente o Evangelho de Jesus, vigiemos para não cair. Carregar a cruz para chegar à ressurreição é o caminho de cada cristão, mas especialmente de cada sacerdote.
Quem és tu, sacerdote?
"Para você, quem sou eu? É Pedro quem responde por todos: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo".
Assim, tu, sacerdote, és Cristo, o ungido de Deus, enviado para ser a palavra de consolo e conforto. Felizes somos nós quando formos caluniados, desprezados por causa de Cristo. E quando sofremos pelos nossos pecados, dobremos os joelhos, peçamos perdão e continuemos o caminho até o encontro definitivo com Cristo, justo juiz que nos julgará sobre o amor.






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