Dom Walmor Oliveira de Azevedo
A ordem justa da sociedade e do Estado é tarefa principal da política”, afirma o Papa Bento XVI na sua Carta Encíclica “Deus Charitas est”, no. 28. A propósito desta insubstituível tarefa da política, o Papa recorda o pensamento de Santo Agostinho que afirma ser uma ‘banda de ladrões’ um estado que não se rege segundo a justiça. Reger-se segundo a justiça requer um grande empenho e uma inestimável lucidez no horizonte de compreensão daqueles todos que se propõem ocupar o cenário da política. A justiça, portanto, é determinante como capacidade e como empenho dos que aí atuam em se considerando que a justiça é o objetivo e, consequentemente, a medida intrínseca de toda política. Compreende-se, no desafio de escolher homens e mulheres para ocupar lugares no palco da política, que a política é mais do que uma simples técnica para a definição dos ordenamentos públicos. É imprescindível, à luz da vida pregressa dos candidatos, uma avaliação de sua competência, ética e administrativa, para que o Estado seja capaz de realizar a justiça aqui e agora.
O Estado precisa contar com pessoas capazes de atuar e garantir a justiça. A justiça, como objetivo e origem do Estado, é de natureza ética. Compreende-se, imediatamente, que não é suficiente uma simples competência para a realização de algumas obras. Obras podem ser localizadas simplesmente em alguns lugares. A justiça é um olhar que abrange o conjunto da vida da sociedade e incomoda com suas exigências de resposta, particularmente quando faz ver a situação dos excluídos e as condições indignas de vida de grande parte da população. Não é suficiente arrancar aplausos por aquilo que se fez. O fazer como resultado do comprometimento político deve ter uma abrangência muito mais ampla. Sua linha de inclusão tem que perpassar, sobretudo, as periferias e as condições degradantes dos que não participam, segundo o seu direito próprio, de benesses que são de todos e não têm oportunidade de inserção nas dinâmicas que vão definindo a vida e a ordem da sociedade. Só a justiça projeta luzes nestas sombras.
Os agentes, pois, na política, com o compromisso que assumem de estar a serviço para que o Estado cumpra esta sua insubstituível tarefa, eles devem ter a competência necessária para a justiça fecundando sua competência administrativa e sua capacidade de compreender e sustentar os processos de uma ordem social, política, econômica justa. O sapateado no mesmo lugar, e em torno das mesmas coisas, como quem amassa o barro, sem resultados, é conseqüência óbvia da incompetência administrativa, mas também do despreparo para compreender, avaliar e conduzir, nos largos e exigentes horizontes da justiça, as dinâmicas de funcionamento das responsabilidades próprias do Estado na garantia de uma adequada ordem social e política. A avaliação da competência administrativa deve estar pari passu com a acuidade ética dos que exercem a tarefa política, sob pena de uma cegueira ética aprisionar os que têm tarefas políticas em condições que não lhes permitem responder às crescentes demandas desta nova ordem social, econômica e política.
E determinante, pois, que os eleitores avaliem esta acuidade ética dos que se candidatam para averiguar a sua competência para o exercício da tarefa política. Todos sabem que promessas não têm nenhuma consistência de garantia no exercício desta tarefa. Quando se está de fora do jogo, sem o peso da responsabilidade de se dar agora a resposta, é fácil dizer que faria, pode fazer ou propor como se consegue alcançar aquela meta. O cumprimento da tarefa política, pois, supõe uma base ética da mais alta profundidade. Esta exigência requer contribuições significativas de quem pode oferecer parâmetros e tem autoridade moral para indicar valores. A Igreja Católica tem consciência de sua missão neste cenário. O Santo Padre o Papa Bento XVI, no Discurso Inaugural da V Conferência do Episcopado Latino-americano e Caribenho, Aparecida 13-31 de maio de 2007, sublinhou este compromisso eclesial ao afirmar que “a Igreja está convocada a ser advogada da justiça e defensora dos pobres diante das intoleráveis desigualdades sociais e econômicas”.
A opção preferencial pelos pobres é o horizonte de inspiração e o instrumento de medição da participação da Igreja nesta missão de oferecer critérios e compartilhar valores para o cumprimento satisfatório da tarefa política. A configuração desta opção abarca todo o ideológico que configura discussões e encaminhamentos sociais e políticos, e inclui a perenidade de valores e a consideração insofismável da dignidade humana como prioridade na definição de programas e, sobretudo, na atuação política. Por isso, os bispos, Doc. de Aparecida, 396, assumiram o compromisso de “trabalhar para que a nossa Igreja continue sendo, com maior afinco, companheira de caminho dos nossos irmãos mais pobres, inclusive até o martírio”
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