sábado, 30 de agosto de 2008

Universalismo Cristão


Dom Geraldo Magela Agnelo


O apóstolo Paulo, cujo bi milenário celebramos neste ano, é verdadeiramente um judeu em Cristo. Foi chamado por Jesus no caminho de Damasco, para onde se dirigia, a fim de prender os cristãos e trazê-los prisioneiros à Jerusalém. A revelação foi-lhe quase tão violenta quanto o ímpeto empreendido na missão para arrasar os cristãos.
É provável que não tivesse conhecido Jesus pessoalmente, nem tivesse aberto os olhos para o extraordinário efeito da missão do precursor João Batista, nem da pregação de Jesus com autoridade acompanhada de milagres que impressionaram até Herodes e Pilatos!
O caminho de Paulo, determinado por Jesus, é de receber da Igreja nascente o batismo e a catequese necessária. Entre Jesus e Paulo existe a Igreja, a comunidade cristã primitiva que testemunha que Ele morreu por nossos pecados, e ressuscitou para dar sentido à nossa fé.
Paulo, por isso, retoma uma tradição pré-paulina ao escrever aos Coríntios: “Com efeito, transmiti-vos, em primeiro lugar, aquilo que eu mesmo tinha recebido, a saber: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras; que foi sepultado; que, ao terceiro dia, ressuscitou, segundo as Escrituras” (1Cor 15,3ss).

Mesmo tendo atrás de si uma longa tradição antigotestamentária, Paulo lê o vulto de Deus no evento de Jesus Cristo. Aí descobre os traços da novidade que o surpreende, o fascina e lhe muda a vida. Para Paulo, Jesus é verdadeiramente “a imagem do Deus invisível”, como se lê no grande hino cristológico da Carta aos Colossenses (1,15). O espaço da novidade de Deus é o Crucificado ressuscitado. Que o Crucificado seja o Senhor, é a ressurreição que o diz. Mas os traços “novos”, surpreendentes, do vulto do Senhor se descobrem olhando o Crucificado.
Ao início de algumas cartas, Paulo reivindica energicamente ser apóstolo. “Paulo, chamado a ser apóstolo de Jesus Cristo por vontade de Deus” (1Coríntios 1,1; cf. 2Cor 1,1). De modo semelhante, mas com acento polêmico na carta aos Gálatas (1,1): “Paulo apóstolo, não da parte de homens, nem por meio de homem, mas por meio de Jesus Cristo e de Deus Pai”. E na carta aos Romanos: “Paulo, servo de Jesus Cristo, apóstolo por vocação, predestinado a anunciar o evangelho de Deus (1,1)”. Com essas prerrogativas, que reivindica com força, se apresenta às suas comunidades.
A liberdade e a coragem de Paulo nascem, antes de tudo, da convicção de que Deus, e somente Deus, é o verdadeiro protagonista de toda ação apostólica. Ele é sereno, sem demagogia, livre das decisões dos homens e de seus interesses. Ele sabe que deverá dar contas a Deus e não aos homens. Sua única preocupação é de permanecer fiel a Cristo. Não se preocupa com sucesso, mas está a serviço dos homens: “Somos vossos servos por Jesus” (2Corintios 4,5). No coração do apóstolo o amor de Deus precede o amor do próximo.

Paulo ocupou-se da caridade desde a primeira de suas cartas, mesmo se o tema venha a ser depois particularmente aprofundado e concretizado pelas exigências pastorais mais do que por exigências teóricas, nas grandes cartas aos Coríntios, aos Gálatas e aos Romanos. Para ele, a fé é o trabalho, a obra, algo que não se reduz ao conhecimento nem ao puro desejo. A esperança é a perseverança e paciência, solidez; é a força de ânimo capaz de durar longo prazo sem deixar-se modificar por desmentidos nem pelo peso das adversidades. A caridade é fadiga, é dura fadiga.
Para ler as cartas de Paulo é preciso ter diante dos olhos a sua figura apostólica e missionária, o princípio norteador de sua teologia, sua relação com a tradição de Jesus e com a tradição apostólica, sua relação com as comunidades. Aí podemos atingir o centro profundo, constante, que sustenta sua espiritualidade, sua teologia e sua atividade de incansável evangelizador.
A figura de Paulo, em todos os seus escritos, aparece inteiramente recolhida na meditação de Cristo ressuscitado e no encargo de ser o guarda de sua memória. Pode-se observar como o desejo de estar ligado às origens é vivo em toda a sua atividade. Quer manter sempre viva, atual e fiel, a memória de Jesus, que para ele se concentra particularmente na cruz/ressurreição. Ele é antes de tudo o ministro da Palavra, que é Cristo.

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